quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Carta n 7

 Querido Romeu,


sonhei contigo, sabes? Não sabes, claro que não sabes, não nos falamos. A última década que partilhamos foi apagada da existência do (teu) universo. O meu orgulho ferido não deixa que me lembre desses anos, também.

Adiante, sonhei contigo. No meu sonho entravas de rompante na casa que um dia partilhámos e fazias a tua rotina normal, como se nunca tivesses saído. No meu sonho, dizias-te arrependido e querias regressar a casa, viver comigo novamente. No meu sonho, eu abri-te a porta para te pedir que saísses, não te aceitava de volta.

Achas que, na vida real, isto aconteceria?

domingo, 29 de agosto de 2021

Carta 6

 Querido Romeu,


tínhamos tudo para dar certo, só que não tínhamos.

eu achei que eras o meu para sempre, mas não és.

és o amor da minha vida, mas não sou o teu.

foi mesmo à rasca que não nos safámos desta tempestade do mar. O meu barco atrelou noutra ilha enquanto o teu desaparecia no horizonte.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Carta 5

 Querido Romeu,


tu sabes tão bem quanto eu, que eu tenho uma dificuldade extrema em esquecer o que me disseram. É o meu superpoder. Esquecer-me de tarefas que tenho de fazer é fácil, agora esquecer o que me foi dito, não é possível.

Sabes, a memória pode ser muito minha amiga, no entanto, também pode ser bastante fodid*. Porque eu gostava, oh-se-gostava, de ser capaz de esquecer. Olha, gostava de poder beber veneno (aquele que me deste e eu tomei sozinha a achar que ias beber também, lembras-te?) e esquecer tudo. TUDO. 

Só que não dá. E as palavras que me disseste ecoam na minha cabeça, fazem ricochete nas paredes do meu cérebro e assombram-me à noite. Por que razão escolheste aquelas palavras?

Sabes, Romeu, nunca percebi muito bem as pessoas que explodem e dizem o que lhes vai na alma ou na língua, sem pensarem bem no que dizem. Não me cabe isso no entendimento, já que eu sou muito ponderada no que digo e penso no efeito que pode ter no outro. Se calhar pondero a mais, não te parece? Em comparação contigo, sem dúvida que sim.

Sabes, há uma coisa que não entendo. Como é que foste capaz de vomitar semelhantes palavras, sem pensares bem no efeito que elas tinhas (quero acreditar que não fizeste de propósito para me magoar), sabendo que eu lembrar-me-ia para sempre delas? O que raio te deu?

Não dá para sermos egoístas e só pensarmos em nós e depois pedirmos desculpa e achar que um ups, não escolhi a palavra certa resolve tudo. Não dá. Para mim, não dá.


Mas o que dá para mim já não te interessa, não é verdade?

Pois olha, interessa-me.

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Carta 4

 Hoje levantei-me e fiz a cama. Beberiquei o café tal como eu gosto dele e da vida: quente, forte, puro.

Peguei na minha caneta e no meu caderno e escrevinhei sobre nós, sabes?

- Sobre o que escreveste? - perguntar-me-ias tu, no alto da tua curiosidade.

- Pontos finais.


É isto. Estive dez anos a escrever vírgulas contigo, para agora mudar os sinais de pontuação.

E nem me faças falar dos pontos de interrogação que me ocupam páginas inteiras.

Carta 3

 Querido Romeu,


apesar de não estares a partilhar o mesmo espaço que eu (ou o mesmo tempo. Ou a vida), quero agradecer-te por múltiplas coisas.

Agradeço todos os sorrisos que vivi enquanto passeávamos pelas ruas de outras cidades, pelos campos do interior de Portugal, enquanto saltávamos de pedra em pedra pelas ruelas mais inusitadas e escondidas por aí.

Agradeço a pessoa que fui contigo, ao teu lado. A pessoa que me tornei por ser tua companheira de viagem nestes anos todos. Sabes que os anos que estivemos juntos têm dois dígitos? Não um, mas dois. Claro que sabes, só não queres saber mais. Também te agradeço por isso.

Agradeço por me ensinares aquilo que eu não quero mais. Por ter lidado com a situação de uma maneira tão prática, tão racional, tão tudo menos o melodrama que esperavas de mim (e tu conheces quem sou melhor do que ninguém, sabes que sou zero melodrama). Por me ter apercebido que preciso de estabilidade na minha vida. 

Não te consigo agradecer todas as lágrimas que choro (ainda) por ti, por teres escolhido deixar tudo para trás, por procurares o quê, exatamente? Nem tu sabes, Romeu. Podias ter feito de forma diferente, podíamos ter estado noutro caminho. Escolheste o teu caminho.

Agora, eu escolho o meu.

Sem ti.

Sem.

Ti.

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Carta 2

 Querido Romeu,


consegues explicar como é que, em todos os nossos planos falados, eu achei que os estávamos a construir em bases de cimento e tu os estavas a construir em castelos de areia?


O que te deu?

Carta 1

 Querido Romeu,


Relembro com carinho estes dez anos que passámos juntos. Relembro com ternura os alinhamentos que as constelações fizeram acontecer para que vivêssemos uma história plena, rica, cheia.

Relembro com mágoa todas as coisas que me disseste.

Relembro com dor que não voltas para nossa casa. Para minha casa.

Relembro com tristeza que eu não sou a tua Julieta, mas tu és o meu Romeu. Só que, nesta história, a única pessoa que tomou o veneno fui eu. Não tu. Tu saíste.